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Túneis, tiros na AK-47 e muitas memórias da guerra

Ufa...hoje o dia foi intenso. Acordamos bem cedo e mais uma vez o passeio comprado no hotel (diga-se de passagem, por 5 dólares por pessoa) foi realizado de forma impecável, horários pontuais, ônibus, guia, etc...

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Levamos aproximadamente 1 hora para chegar em Cu Chi, a 70 km de Saigon. Esta cidade tem grande relevância para a História do Vietnam, principalmente por seus túneis e batalhas ali ocorridas. O ingresso custa 90.000 vnd por pessoa, o que equivale a aproximadamente 12 reais. O local é extremamente organizado e até que bem preparado para receber o volume de turistas que circula por lá.

Pois bem, quanto aos famosos túneis de Cu Chi, cabe dizer que muitas pessoas acreditam que eles foram construídos durante a Guerra do Vietnam contra os americanos, no entanto, foram construídos durante a ocupação francesa e expandidos e também usados durante a guerra do Vietnam. No total são 220 km de túneis (chegando ao Cambodja) dividido em 3 níveis: 5, 7 e 10 metros de profundidade subterrânea, onde chegaram a viver mais de 10.000 pessoas, tudo construído por vietnamitas comuns, os comunistas do Norte, chamados na guerra do Vietnam de vietcongues, sem projeto de engenheiro ou arquiteto, num trabalho de formiguinha cavado com as mãos e pás, sendo a terra carregada em cestos de bambu, que chegavam a pesar até 25kg.

Os túneis foram descobertos por acaso por um sargento americano, que acreditou ter sido picado por um escorpião quando na realidade tinha sentado nas armadilhas colocadas na entrada do túnel. Inicialmente, os americanos subestimaram o comprimento da rede de túneis, depois perceberam sua dimensão e se deram conta do perigo de enviar soldados lá para dentro, com tantas armadilhas, ar escasso e extremamente apertados para os soldados ocidentais. Assim, soldados magros e baixos, a maioria de origem latino-americana, foram treinados pelo exército dos Estados Unidos para explorar os esconderijos vietcongues em 1966, ficaram conhecidos como "Tunnel Rats" (Ratazanas de Túneis).

A primeira parada foi feita num esconderijo usado pelos combatentes. Locicamente experimentei entrar e tentar sentir um pouco do que foi o clima naquele lugar na época da guerra. O espaço é bastante apertado e dá para descer e se esconder completamente, principalmente pelo fato de que o buraco tem uma tampa, coberta com folhas, e fica totalmente camuflado pela natureza. Raul nem tentou, achou que não ia caber kkkk.

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O lugar é bem realista, pois a História de fato aconteceu ali. Tem buracos de bombas, cabanas com bonecos simulando a rotina da época e a confecção de armas, alguns destroços da guerra, etc. Pudemos até experimentar o que os combatentes comiam - mandioca com paçoca -, um alimento rico em nutrientes e de fácil conservação.

O que chamou bastante a atenção foram as armadilhas feitas pelos vietcongues de forma bastante primitiva, porém, extremamente criativas e eficazes no combate. Os efeitos causados eram extremamente prejudiciais aos inimigos.

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O lugar realmente te faz sentir num ambente de guerra, principalmente ao chegar perto do estande de tiros, com um barulho enorme que ecoa pela floresta. Os turistas podem se arriscar escolhendo as armas para atirar, que variam de pistolas a metralhadoras. Também não podíamos deixar de experimentar mais essa sensação. Raul optou pelo fuzil AK-47 (parêntese: essa arma pode chegar a 600 tiros por minuto) e até que ele foi bem preciso, conseguindo acertar o alvo em três de cinco tentativas. Logicamente, minha marca não foi assim tão boa...kkkkkkk e ainda saí com o ombro dolorido do impacto que a arma dá quando você atira. Mas valeu a experiência que não custa assim tão barata, sendo que é preciso comprar pelo menos 10 balas pelo preço de 40.000vnd cada uma, o que dá aproximadamente um total de R$50,00.

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Depois, um pouco da sensação real dos túneis. Confesso que não encarei entrar neste não, fiquei com um pouco de claustrofobia e foi a vez do Raul kkkkk. 20 metros foram suficientes para ele sair todo suado, com os joelhos doendo e falta de ar, sentindo como se estivesse andando num esgoto. Aqui vale destacar a bravura das pessoas naquela época em que viveram nestas condições e que construíram este mundo subterrâneo.

Mesmo porque, não se pode esquecer que estamos falando da década de 60 e início de 70, com condições precárias no local, proliferação de doenças (principamente malária, que consumiu grande parte daquela população), técnicas primitivas de um povo que lutou uma guerra de guerrilha, usando as selvas do Vietnam e armadilhas contra os inimigos, enquanto os Estados Unidos se armaram de grande poder em artilharia, aviação e armas químicas em seu ataque.

No mundo subterrâneo dos túneis havia salas de reunião, cozinhas, hospitais, projeto de ventilação e sistema de água. Incrível!

Hoje (assim como em tantos outros dias que já fizemos isso aqui) passamos o dia falando sobre a guerra e tentando tirar nossas conclusões sobre este grande conflito e até mesmo se o comunismo foi realmente a melhor saída para este país. E para completar nossa bagagem, no retorno, descemos próximo ao Museu de Memórias da Guerra do Vietnam, que tem um ingresso num precinho bem módico de 15.000vnd por pessoa (algo em torno de R$ 2,00) e um acervo bem vasto.

Vale dizer que o museu impacta seus visitantes (confesso que chorei algumas vezes hoje) principalmente na sala de crimes de guerra, que mostra fotos bastante realistas dos bombardeios com armas químicas realizados pelos americanos, em especial do "agente laranja", cujo objetivo era avistar os guerrilheiros vietcongues que se escondiam nas florestas e matas. Eliminadas as florestas, os soldados norte-americanos poderiam ver o inimigo e queimá-los com a incendiária bomba napalm. Mas o problema maior foram os efeitos dessas armas químicas na população, que gerou as mais variadas doenças e resultou em tamanhas atrocidades. Quem nunca se emocionou com essa foto?

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Desde o começo da nossa viagem em Hanoi e pelos outros lugares que passamos no Vietnam, notamos que há muitas pessoas com deficiências físicas e mentais por aqui, tais como surdos, mudos, com ausência de membros, etc. Só que grande parte dessas pessoas são nascidas no pós guerra e sempre comentávamos sobre a origem disso e se tinha alguma relação. Hoje tivemos a certeza de que o ataque das armas químicas (principalmente o agente laranja) foi a causa dessas enfermidades irreversíveis que ainda persistem, sobretudo de malformações congênitas, câncer e síndromes neurológicas em crianças, mulheres e homens do país.

Outra coisa que no chamou a atenção foi a carta de uma vietnamita vítima de sequelas oriundas dos ataques (ela nasceu sem as pernas e a mão esquerda), numa espécie de crítica e súplica ao então presidente americano empossado, Obama, para que os EUA voltem seus olhos para as vítimas da guerra, em especial para os "descendentes" do agente laranja. Vale a pena perder um tempinho, ler, refletir e tirar suas próprias conclusões.

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No mais, há várias outras fotos, peças e informações no museu que mostram até o fim da guerra ocorrido em abril de 1975, com a invasão e ocupação comunista de Saigon, então capital do Vietnam do Sul e a rendição total do exército sul-vietnamita.

Valeu muito a pena a visita e, no final, deu para dar uma descontraída na sessão de fotos na parte externa do museu, com um acervo grande de tanques, helicópteros, canhões e outras armas utilizadas na guerra.

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E como hoje é sábado, para amenizar as emoções do dia, fechamos com uma cervejinha Tiger (pra variar) e uma pizzinha numa das ruas de maior movimento aqui em Ho Chi Minh, a Bui Vien.


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