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Considerações finais sobre Cingapura

É hora de dar tchau a esta cidade incógnita. Ontem à noite, em razão de um monte de dúvidas que ainda tínhamos, Raul e eu ficamos lendo

tudo que havia na internet de comentários e impressões deste lugar para tentar entendê-lo um pouco mais. Pois bem. Não chegamos a um consenso, mas temos algumas divagações a apresentar:

A primeira impressão que se tem quando se chega aqui é de que tudo é perfeito e você pensa: "nossa, achei o lugar dos sonhos, gostaria de morar aqui, onde tudo funciona nos mínimos detalhes!!" (o que de fato é verdade, pois funciona mesmo). Num segundo momento você percebe que as pessoas trabalham muito e são meio tolhidas em sua individualidade, através de uma pressão velada do governo e de um sistema rigorosíssimo de normas.

Conhecendo um pouquinho melhor esse "mundo ideal", você se sente um pouco estranho por aqui e a paixão a primeira vista vai dando lugar a uma reflexão: de fato seria assim tão perfeito viver neste lugar? Será que não nos tornaríamos mais uma pecinha da engrenagem, sem ao menos nos dar conta de que somos apenas mais um neste contexto, sem individualidade, criatividade e vivacidade? Chegamos a comparar a cidade com aquele filme "O show de Truman", em que o Jim Carrey é o protagonista e desde que nasce é colocado num reality show sem saber que está sendo monitorado e assistido 24 horas ao redor do mundo, lembram?

Cingapura é conhecido como um país "fine", ou seja, este é um trocadilho usado para a palavra inglesa "fine", que pode significar o adjetivo "bacana, legal", mas também a palavra "multa". Isso porque, ficamos atordoados e começamos a nos sentir controlados e na iminência de cometer um crime a qualquer momento, quando lemos a relação do que é proibido fazer em Cingapura e as punições que isso pode gerar aos cidadãos. Listamos o top 10 das regras:

1- Multas de até $1000 por jogar lixo nas ruas;

2- É proibido fazer xixi em elevadores;

3- É proibido vender e mascar chicletes;

4- Dar abraço sem premissão é crime contra modéstia;

5 - São proibidas reuniões de 2 ou mais pessoas após 22 horas;

6- Você pode receber uma multa por não dar descarga em banheiros públicos;

7- É ilegal andar pela sua casa nu ou com roupas íntimas;

8- Cuspir e/ou comer na rua é proibido em Cingapura;

9- Proibido dizer aquilo que você não é, ou seja, proibido mentir;

10 – Se for pego pichando um muro levará uma surra.

Tem uma relação gigantesca de coisas, que estão muito bem esclarecidas nesse blog e que sugerimos que leiam. As penalidades para estes "crimes" e os tantos outros variam entre multas, canning (que nada mais é que um bastão de bambu/cana-de-açúcar feito para punir dolorosamente e deixar marca eterna na pele de quem sofre essa pena), cadeia, podendo chegar à pena de morte por enforcamento em situações extremas, como por exemplo porte de drogas.

Cingapura ainda é uma incógnita para nós. Pelo menos agora entendemos porque ela foi chamada por um escritor de um artigo que lemos ontem como "a Disneilândia com pena de morte". Por outro lado, é preciso ir mais fundo no conceito e levar em consideração que o país é formado por uma grande parte de migrantes, com culturas e crenças diversas. E pelo que sentimos, precisaram criar regras rígidas para estabelecer uma cultura própria, unificando vários povos e mantendo um controle firme, de forma que os cidadãos não se choquem em meio às diversidades. Logicamente tem também a questão da soberania do governo, sendo que um dos grandes crimes em Cingapura é justamente falar mal do governo, havendo inclusive censura da impresa.

Com todas as opiniões controvertidas e regras questionáveis, este é sem dúvida um dos países que mais nos trouxe coisas para pensar... E fechamos nossa passagem por aqui com a linda vista noturna da Orchard Road.


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