Antes da viagem fizemos um roteiro detalhado dos pontos mais interessantes com base no Trip Advisor, blogs de viajantes, Lonely Planet, etc... Não me arrependo, porque chegando na cidade você tem tanta oferta de passeios e de destinos que pode se perder se não tiver bem esquematizada a sua wish list.
Por questões de ajustes no custo-benefício dos voos que compramos, fizemos o seguinte: chegamos por Siem Reap e ficaremos aqui do dia 5 a 07/10. Daqui vamos para o Laos e ficamos em Luang Prabang até o dia 11, voltando para Siem Reap até o dia 15/10, data que começa a Canton Fair em Guangzhou e precisamos estar de volta. Sendo assim, "quebramos" o roteiro do Camboja para não ficar tão cansativo e para podermos explorar bem os melhores pontos.
Pois bem. Ontem à tarde fomos visitar o War Museum (Museu da Guerra) para entender melhor a história do país e conhecemos uma realidade bastante dura e triste, que vou tentar resumir: falando dos tempos mais modernos (mais adiante falaremos sobre Angkor, que representa um período mais remoto), o Camboja foi um protetorado francês em 1864 (por isso a influência francesa em muitas construções e na língua), mas durante a 2ª Guerra Mundial foi ocupado pelos japoneses, tendo sua independência oficialmente decretada somente em 1953. Tentou se manter neutro na Guerra do Vietnam, mas os vietnamitas utilizavam o território vizinho para abastecer suas forças que operavam no sul comunista, o que fez com que o Camboja se envolvesse na guerra. Em 1970, os EUA bombardearam a maior parte do país. Pouco tempo depois o primeiro-ministro Sihanouk foi deposto pelo general Lon Nol, acredita-se que com apoio dos americanos.
Este golpe provocou o descontentamento dos comunistas do Camboja, reunidos no grupo chamado Khmer Vermelho, chefiado por Pol Pot. O Khmer Vermelho chegou a Phnom Penh e tomou o poder em 1975, mudando o nome oficial do país para Kampuchea Democrático, sendo apoiado pela China. Seguiu-se uma época de extrema miséria, pois toda a população foi enviada em marchas forçadas para projetos de trabalho rural, tentando reconstruir a agricultura do país no modelo do século XI, descartaram a medicina ocidental e destruíram templos, bibliotecas, e todas aquelas expressões vistas como influências ocidentais. Entre um e dois milhões de cambojanos, de uma população de 8 milhões, morreram executados, por excesso de trabalho, fome e doença. As estimativas do número de mortos varia, mas a maioria das fontes dão um número entre 1,7 e 2 milhões. Esta época deu origem ao termo "Killing Fields" (campos de matança) e a prisão de Tuol Sleng se tornou famosa por seu assassinato em massa. Centenas de milhares de pessoas fugiram pela fronteira para a Tailândia. O regime exterminou minorias étnicas e profissionais como médicos, advogados e professores, também foram afetados, já que eram vistos como um sinal forte de intelectualismo.
Entretanto, o Khmer Vermelho começou a atacar o Vietnam e, em 1979, o Camboja foi invadido pelo país vizinho. O regime comunista caiu e as forças vietnamitas instauraram um governo socialista. A partir desse momento, a guerrilha dos Khmeres Vermelhos passou a atacar sucessivamente o poder. O país ficou dividido entre o comunismo, a frente de libertação do Kampuchea e a monarquia, sendo que em 1991, as várias facções assinaram um acordo de paz sob os auspícios da ONU. Em 1993 a monarquia foi restaurada e vigora até os dias atuais, com o rei Norodom Sihamoni.
Pol Pot foi preso e respondeu pelos crimes de guerra, sendo condenado à prisão perpétua, mas teria oficialmente morrido de causas naturais (ataque cardíaco) em 1998. Sua cremação foi transmitida em rede nacional à população do país.
Mas o que mais impacta é a cruel realidade do resultado das guerras: a UNICEF colocou o Camboja como o terceiro país com mais causas de morte por mina terrestre no mundo, atribuindo a esta mais de 60.000 mortes de civis e milhares de mutilados ou feridos desde 1970 por causa das minas terrestres não detonadas deixadas para trás em áreas rurais. Detalharemos esse ponto mais tarde, quando falarmos do Land Mine Museum.
Em resumo, o Museu da Guerra é pequeno, mas bem interessante. Você pode pedir uma visita guiada na entrada, que custa 5 dólares por pessoa. Os guias são veteranos, vítimas de minas ou pessoas que vivenciaram a guerra de alguma forma e o dinheiro dos ingressos é revertido para esta causa. Há recortes, fotos, peças, tanques, armas, bombas, enfim, vários itens que remontam à época da guerra civil cambojana e que ilustram de forma bem didática este trágico momento da história do país. É possível interagir com o acervo, subir nos tanques e até mesmo manusear algumas armas.
No fim do dia, passamos pelo Old Market (Psar Chaa), parada obrigatória para dar uma espiada no artesanato local e sua diversidade de comidas estranhas. No mínimo, curioso!