Ontem tudo correu bem com o voo para Luang Prabang (um teco-teco kkkk da Vietnam Airlines) e ficamos bem satisfeitos com o guesthouse que escolhemos, o Villa Meuang Lao, super bem localizado, com bom quarto, atendimento muito simpático e preço razoável. Fica a apenas 1 minuto andando da rua principal e do night market. A entrada no país também foi bem fácil e o processo de imigração não levou mais de 20 minutos, com emissão do visto após o pagamento de 31 dólares por pessoa e fornecimento de uma foto 3X4 (se você não tiver eles digitalizam a do passaporte e cobram mais 1 dólar por isso). Feito! Mais um carimbo para o passaporte.
E hoje foi outro dia intenso. Acordamos às 5 da manhã para participar da Ronda das Almas, que é um cerimonial que acontece na rua principal de Luang Prabang, no qual as pessoas doam comida aos monges. Há quem diga que a coisa toda é turística, para tirar fotos e que os alimentos vendidos ali são caros, mas a verdade é que é algo imperdível e tradicional.
O Laos é um país super pobre e religioso, com 90% da população budista e o que mais se vê nas ruas são os "pequenos monges" (crianças e jovens). Eles são entregues à religião pela família e a grande maioria deles não seguem a vida como monges, apenas ficam ali por um tempo numa rotina rigorosa: rezam, estudam, meditam, desenham e recolhem alimento das doações nas ruas. Portanto, eles de fato comem aquilo que é ofertado. Também ficamos sabendo que pelas dificuldades financeiras que as famílias passam, esses jovens fazem falta como força de trabalho, mas esse é um sacrifício que os pais fazem para receberem as bênçãos de Buda.
A fila de monginhos para pegar o alimento é imensa e a gente vai colocando aos poucos nas cestas que eles carregam, o arroz (que para o Budismo representa a partilha), biscoitos, bolo e o que mais se queira oferecer.
Você pode comprar uma cestinha pronta nas barraquinhas próximas, aí você senta numa almofadinha no chão e deve levar uma echarpe para cobrir o ombro esquerdo, em sinal de respeito. A sensação é inexplicável e vale a pena acordar de madrugada, com tudo ainda escuro, para participar.
Nosso próximo destino foi o Monte Phousi, ali bem pertinho. Basta ter coragem para subir 330 degraus, pagar 20.000kip por pessoa e ter uma vista linda da cidade de lá de cima, onde fica também um templo com umas imagens de Buda.
O calor estava escaldante, mas dentro do templo estava bem fresquinho e o ambiente de paz que paira ali é incrível.
No fim da tarde participamos de uma das coisas mais fantásticas que já vivenciei. Logicamente isso foi minha ideia (tipicamente menininha kkk), mas o Raul curtiu muito. Fiz o agendamento prévio para o Cerimonial Baci, no Hotel Amantaka (fiquei sabendo que é possível participar também em alguns templos da cidade, mas é um pouco mais difícil de agendar), em sinal de bênção ao nosso primeiro ano de casamento e para celebrarmos a vida. Pois bem. No horário combinado um funcionário do hotel veio nos pegar e fomos muito bem recebidos pelo organizador dos eventos do hotel (mais tarde ficamos sabendo que ele é uma espécie de "príncipe", descendente da família real antiga do Laos e que é um psicólogo com vasta vivência e estudos no exterior).
O ambiente do hotel por si só já proporciona uma paz imensa.
Fomos então direcionados para um lugar arejado num espaço apropriado do hotel e tudo foi detalhado para a gente, sobre o que seria feito, de que forma e o significado de cada um dos ritos e dos objetos usados.
Em resumo, o ritual tem influência Brâmane, para abençoar e apaziguar as almas de quem participa. Há um prato de oferendas no centro e as preces da cerimônia são conduzidas por um casal de idosos super fofos e com uma fisionomia que transmite paz (uma espécie de xamã, não monges).
Recebemos uns buquezinhos de flores enroladas em folha de bananeira para dormirmos com eles ao lado da cama e foram amarrados dois barbantes em cada um dos nossos pulsos, como forma de união e símbolo de condução de energias. Sensação de paz plena!
Ao final, fomos levados pela gerente do hotel para conhecer as instalações e convidados para tomar um chá da tarde, que estava delicioso.
Fechamos este dia incrível e inusitado que tivemos num bar marvilhoso chamado Utopia, que recomendamos muito! O lugar tem uma pegada jovem e diferenciada, com uma decoração cheia de motos, tuk-tuks, tochas, luz bem fraca, com uns tapetinhos e almofadas espalhados pelo chão, onde você senta, deita, relaxa, come e bebe, tudo isso às margens do Rio Namkhan. O atendimento é muito bom e tem gente de toda parte do mundo lá.
Na volta para o hotel, impossível não fazer um pit stop no Night Market, pois o Laos tem coisas bem bonitas de artesanato, com muitas estampas, seda, cores. As barraquinhas são todas de mulheres, que em sua maioria levam os filhos junto e ficam todos ali sentadinhos no chão e você deve encarnar o personagem se tiver interesse em comprar algo, abaixando-se ali com as vendedoras e negociando os preços, é assim que funciona.
Desde as 5 da manhã, cada minuto do dia de hoje valeram muito a pena!!! E para ilustrar um pouco mais a história deste povo, hoje li muitas coisas sobre o Laos e descobri que até o começo dos anos 2000, exceto pelos didáticos, não havia nenhum outro livro impresso na língua laociana e, logo, o país era conhecido como o "lugar onde o povo não lê".
Esse quadro mudou quando um garotinho do interior do Laos chamado Khamla, de 12 anos, se interessou pelo fato dos turistas lerem enquanto estavam de férias e percebeu que livros não representavam apenas estudos, mas poderiam significar algo mais amplo. Como ele era bastante inteligente, sua família se mudou para Luang Prabang para incentivar seus estudos e ele conheceu o professor Siphone, que havia comprado três computadores da Tailândia e abriu um ponto numa pequena sala para ensinar computação aos meninos da cidade.
Ambos conheceram Sasha, um americano que estava vendendo sua empresa de publicidade nos EUA e visitou o Laos em 2003, com o objetivo de fazer algo maior. Em linhas gerais, os três se uniram e criaram o projeto "Big Brother Mouse", produzindo material voltado para crianças e atingindo o objetivo de publicar obras no país e na língua local. Hoje o Laos é um país que fomenta a leitura por suas crianças e adultos, inclusive nas áreas rurais, o grupo já ganhou prêmios internacionais e aos poucos a realidade do país vem se modificando.
Segue o site do projeto para quem se interessou: http://www.bigbrothermouse.com/visit.html